quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Dias assim

Há dias assim. Dias que nem parece que dormes, que sonhas, que desligas do mundo real. Há dias assim. Os que não sabes se precisas de um copo com um café forte ou de uma cama gigante cheia de almofadas para te enfiares o dia todo e nem saberes de que cor o céu decidiu aparecer hoje.

Há dias assim. Dias que o mundo bem podia pedir feriado, que todas as frases positivas te parece tretas e balelas de alguém que não sabe que o mundo real, o piso em que todos os dias tocas é feito disso mesmo: rotinas, gente chata, responsabilidades e negativismo. 

Há dias assim e somos nós que os temos que encarar. Nós, os crescidos, os ditos adultos, os que deviam acreditar que amanhã vai vir melhor e é tudo uma questão de tempo. Mas depois, há dias assim, que parece que acordas desse sonho em que vives, nessa esperança, nessa ilusão e te apercebes, - como que a deixar de ser criança para adulto -, que afinal ainda tudo continua igual. Continuas no mesmo emprego, acordar à mesma hora, a ir ver as mesmas pessoas e ter que fazer as mesmas coisas. Que o caminho para casa continua a ter o mesmo buraco que ontem e a semana passada e o mês passado, que os teus fins-de-semana não sabem a tal porque tu continuas à um ano a jurar que vai mudar, mas que não tens maneira de fazer. Que continuas a bater na mesma tecla pela pessoa errada e te sentes culpada por não teres feito melhor, não teres sido melhor, para alguém que tu achas melhor e nem faz sentido o achares.

Há mesmo dias assim. E amanhã é outro dia, é verdade. Mas, seria muito pedir que esses dias...acabassem por não existir


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Sobre pessoas

Trabalho para o público. Nunca foi uma escolha minha, até porque se pudesse fugia dessa realidade. Mas por vezes a vida obriga-nos a irmos por caminhos que, provavelmente, são aqueles que dizemos "Nunca! Deus me livre!". Trabalhar para o público certamente era e é uma das realidades que eu menos gostaria de poder viver todos os dias. Mas vivo e vivo à aproximadamente um ano e cinco meses. Ano e meses esses, incrivelmente imprevisíveis e de um crescimento incrível, admito já. 

Trabalhar como recursos humanos (experiência que também já tive), faz-nos estar envolvidos em várias frentes de combate, mas estamos seguros por detrás de uma protecção que é quase como o "temos sempre, ou quase sempre razão"...nem que seja pelo código do trabalho que nos apoia nas situações mais adversas e complicadas. Mas trabalhar como vendedora numa loja que nem todo o cliente se digna de usar esse nome devidamente é que é a verdadeira frente de batalha. 

Não consigo, sendo isso quase impossível, contar as vezes que dizemos "Bom dia/ Boa tarde/ Boa noite" e somos ignorados. Na minha terra, na minha educação, seja qual for o nosso nível social ou até de habilitações, isso chama-se falta de carácter, falta de educação. Até porque pode vir o chefe de estado, se ele não me cumprimentar com um "Bom dia" para mim, perde todo o respeito que se pode ter por uma pessoa.

Existem essas pessoas e aquelas que juntando ao facto de não nos responderem, ainda se acham no direito de vir (depois de nos ignorar) perguntar "onde está a camisola que está na montra?"...ao qual eu respondo "Bom dia (novamente), a camisola está...". Minha gente, será complicado ter-se educação?! Por vezes, a pessoa que vos vai atender tem mais habilitações literárias que vocês, acreditem ou não. Por isso, não, ninguém é mais do que ninguém seja em que sitio for. 

Depois, vem o filme dos saldos. O filme de se desdobrar, passar por cima, sujar roupa, querer ser o primeiro, querer ser atendido logo e já e não pensar a batalha que estamos enfrentado de horas a fio em pé a servir um público efusivo e ansioso. Atenção, mais do que servir, manter a força, o sorriso e a educação, quando tudo o que falha ao público em geral é mesmo isso, a falta de educação. 

Eu sou antes de vendedora, sou uma cliente e todos os dias aprendo uma lição, a lição de ser mais rica em todos os sentidos com todos os clientes. Adoro o que faço e cresci imenso, principalmente na vertente de abstrair e continuar com o sorriso, o mais natural de todos, pois em todo o lado é assim, aprendemos a lidar com as situações mais complicadas e ter que ser resiliente. 

Mas, não podiamo-nos por um bocadinho no lugar uns dos outros por vezes?!